segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Vermelha Rede Natalícia


E enquanto esburacava minuciosamente a fatia de bolo-rei com a faquinha, pensava na essência do Natal. Não que eu me permita assumir que, exporádicamente, delineio grandes teorias sobre assuntos mais, ou menos, interessantes, mas a minha nobre capacidade de utilização de eufemismos faz-me escrever conclusões que tiro nestes raciocínios a que a minha pequena intelectualidade se porpõe através da minha humilde experiência.
Bom, o que é certo é que apareceu cá em casa o potezinho do doce de abóbora que algum vizinho ofereceu, não é um vizinho qualquer, isso sei-o bem, ele é que não sabe que eu não gosto de doce de abóbora, mas a sua senhora fê-lo por esta altura, diria até propositadamente, e ele distribuiu-o pelas pessoas que lhe são mais queridas com o intuito de o colocarem na mesa de Natal. E o meu pai, cortou quase todas as couves que haviam crescido na horta e entregou-as. A este, àquele, ao outro, a esse mesmo... tudo gente que ele queria ver feliz por poder ter na Consoada couvinhas da horta, que não sabem ao mesmo que aquelas dos supermercados. E desta vez temos umas 7 caixinhas de bombons, arriscaria a dizer, na nossa mesa Natalícia, quer dizer 7 não, porque tanto bombon ocuparia o espaço do bolo-rei e das rabanadas, portanto encontram-se em espera numa outra mesa qualquer. Algumas foram oferecidas gentilmente pelos clientes dos meus pais (clientes não, consumidores é uma palavra mais bonita, uma vez que estou em PM, mas assim terá de ser "pelos consumidores dos serviços que os meus pais proporcionam", porque os consumidores não consomem os meus pais, ou pelo menos, não na íntegra, só a paciência) outras pelos distribuidores. Eu sei que são estrtágias de fidelização e acções de relações públicas que passam a ser exercidas pela pessoa do vendedor, mas a verdade é que os senhores se lembram de trazer chocolatinhos e nós agradecemos.
Mas ninguém dá como prenda, ninguém dá com o propósito de se colocarem os artigos bem juntinho da árvore, do lado direito do presépio, ninguém dá sequer por obrigação ou ressentimento. As pessoas dão porque conhecem a utilidade dos produtos nesta época e tal é a azáfama da época que nem sequer descobrem o mistério escondido nesta palavra: Dar.
E o Natal é isso. Pequenas e grandes linhas de solidariedade e agradecimento nas quais as pessoas caminham, tropeçam e se prendem, tentando atingir a felicidade, por mais que não seja durante dois dias.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Companheirismo Azul


No outro dia cheguei a uma conclusão. Os amigos de infância, aqueles que podemos dizer que "conhecemos desde que nascemos", esses que nos mordiam e com os quais brincávamos às escondidas e, que nos mordiam enquanto jogávamos às escondidas têm sempre uma cadeirinha nesta coisa a que podemos chamar de plateia para a qual espalhamos sentimentos. Esses sentimentos de "gostar de ti".
Então a tese é: podemos estar meses separados, mas quando nos juntamos é como se tudo voltasse a ser igual. Não a idade, não o sítio, não o tema da conversa (bem, este tópico é discutível), mas o à vontade, o entendimento ou não. É assim um portal do tempo para aqueles dias em que viamos o Batatoon e lutávamos pelo comando. Aqueles dias em que quase deitávamos os aquários ao chão. Aqueles dias em que esfolávamos os joelhos na alcatifa, gozando uns com os outros.
Hoje, depois de todas as imbirrações e aversões, sei que tenho um ombro onde deitar a cabeça nas viagens longas.

sábado, 27 de novembro de 2010

Visitas Roxas

Não sei como foi, nem porque foi. Só sei que quando me vi, já estava aninhada em ti. Epá e aquele abraço soube-me por mil. Precisava. Precisava daquilo e de muito mais. Pode ser o pré, o pós ou o durante mas a verdade é que as coisas não andam a correr muito bem. Irrito-me, falo mal, fico mal. E nada muda. Vá, sejamos sinceros, muda. Isso dói-me. Dói-me ainda mais, porque já me doeu mais, outrora. Mas ver-te e conseguir com que me roubasses um abraço é daquelas coisas que me fazem pensar. Pensar sobre tudo o que foi, sobre tudo o que é. E é muito pouco. Continuo sempre a encontrar-te e isso é bom. É óptimo. É reconfortante. Pena foi ter-me posto propositadamente entre duas feras, como sempre, mas pronto um dia enfrento-as.
Agora, só quero lembrar-me da tua aconchegante camisola. Se...

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Etiqueta cinzenta "Made in China"


Caixas, pacotes, sacos e paletes. Uns quantos braços descarregam, deste lado do mundo, uma grande variedadede coisas castanhas e cinzentas. Há quem vá. Há quem volte. Há quem tire dum lado. Há quem ponha noutro.
Tudo maquinalmente organizado com um fim. Qual? Não sei bem. Provavelmente a venda de coisas. De muitas coisas e de muitos tipos.
Sinceramente, não gosto muito da palavra. Coisas...
Máquinas essas de tez sul-asiática que tentam, há já vários anos, a sua sorte num país que, não se dizendo racista, deveria comprar mais dicionários.
A impessoalidade daquelas caixas, dos pacotes, dos sacos e das paletes transporta a insignificância e o anonimato de muitas vidas. Da do motorista da carrinha e dos muitos filhos dos senhores das barraquinhas. Dos bagageiros nos vários países e dos longínquos operários "made in China".
De facto, são apenas isso, coisas feitas para fazer coisas. E bem sabemos nós que muitas dessas coisas são muito pequenas. As que fazem coisas. E de alguma coisa serve?
A industrialização legítima com base em ilegítima exploração favorece um legítimo desenvolvimento económico.
Economia que cresce com o trabalho maquinalmente organizado de deslocar caixas, pacotes, sacos e paletes. Economia com grandes implicações ( e como esta palavra cheira a justificação) que não permite a acção dos senhores perfeitos da comunidade internacional que todos acham que existem... C-O-M-U-N-I-D-A-D-E I-N-T-E-R-N-A-C-I-O-N-A-L.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Se a cor depende de cada um, a minha é verde-alface

-Será que algum dia foste feliz?
-A felicidade é muito subjectiva para to poder dizer; mesmo quando pensas que quando comecei a ser feliz, a infelicidade me impediu de ser, digo-te que tudo é uma questão de dar mais importância a essa felicidade para que não seja abafada. Se vires a felicidade em tudo, serás feliz.

São de terra, são castanhas


É absurdamente estúpido escrever sobre aquelas horrorosas escadas. Mas a pedido de várias famílias, terei de o fazer.
São exactamente isso, horrorosas. Intermináveis, infindáveis, largas para pôr só um pé, estreitas para pôr dois. Íngremes, feias, torturantes. Ninguém nunca falou, em tempo algum, bem das mesmas. E ninguém nunca falará. Uma escola tão bonita e moderna, à qual se tem de aceder por esta tentativa de escadas, que ornamenta uma colina, onde se encontra de tudo, menos cimento. Não que eu ache o cimento uma coisa bonita, mas passar aqueles dolorosos 10 minutos da minha vida (5 a subir e 5 a descer) fugindo aos ataques de plantas, canas, e toda uma panóplia de coisas verdes, que por não serem cortadas, são gigantes e, por outro lado, de eventuais espécies de animais das quais nunca avistei nenhum exemplar, mas que cuja existência já me asseguraram, é desagradável e desesperante.
E muitos são os arquitectos que já se debruçaram sobre as possíveis alternativas àquelas escadas (sem ser ir dar a volta ao mundo, o que pode acontecer, num dia qm que chova muito, ou que precisemos de fazer tempo para ir para as aulas - o que não acontece), nos quais eu me incluo. Porque não uma rampa acimentada, umas escadas forradas a alcatrão, ou simplesmente o embelezamento da coisa, que ao menos não nos faria desistir das actuais escadas antes mesmo de as começarmos a subir?
A boa notícia é que chegarei ao Verão com os glúteos "memo bons"!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A falta de controlo poe-me amarela

É que não sei o que vai acontecer. E isso dá-me dores de barriga e tira-me a fome. Não gosto de meio-termos. É um stand by que me perturba e atrofia o corpo e a mente. Será que sim? Será que não? E enquanto isto não acabar não passa. Isto? este querer/não querer, este vai/não vai.
E depois mordo-me de insegurança quando penso em toda uma realidade diferente com que me deparo sem ter consciência. E fico triste. Ou então passa por mim qualquer coisa que me dá uma força vinda sabe-se lá de onde e me faz sorrir.
Mas cá p'ra mim nada disto significa o que costuma significar (ou se calhar sim). Mas não tenho a certeza de nada. E isso irrita-me tanto que me baralha cada sentimento e me enfraquece constantemente.

domingo, 3 de outubro de 2010

Não se preocupem em compreender este texto cor-de-rosa

Costumava ser hábito olhar para a rua todos os dias e acenar. Sentia-me bem, porque me correspondiam. Naquele agitar de mãos e mexer de lábios percepcionando-se o “olá”, estava implícito muito mais. Agora quando olho não é igual. Por isso é que gosto de hábitos.

Interessa lá se eram pretos. A boa notícia é que falavam


É uma vida agitada, mas isso toda a gente sabe e, sendo verdade ou não, todo o mundo o diz. Andando aima e a baixo como muitos transeuntes, começava a ficar desanimada, uma vez que quase todos os meus pensamentos se focavam naquilo que queria e não encontrava. Nada de muito importante. Mas desejado. Lá tive a ideia de pedir emprestado, depois de todo aquele esforço físico e mental. Mandei mensagem, telefonei e lá encontrei alguém que me satisfez o pedido. No entanto, ainda nesta azáfama, informaram-me que o meu pedido não era possível de satisfazer nas medidas em que queria. E fui então eu, tentar remediar-me com o que haviam encontrado. Mas estava irritada e alegre ainda assim, porque ao sentir-me tão ridícula, chegava a achar piada de mim mesma. Foi aí que os vi. E fiquei encantada. Não era daquilo que tinha andado em busca a tarde toda, mas era muito melhor. Eram cintilantes, esses pequeninos olhos que me sorriram quando por eles passei. E senti-me tão feliz que tudo aquilo em que estava embrulhada me passou ao lado. Gostei tanto de ver o que vi, que fiquei surpresa por me ter mostrado a racionalidade. Parei, olhei e e o que era importante deixou de ser esquecido.

domingo, 26 de setembro de 2010

Os meus tubarões verdocas

Sabes, quando era pequena costumava atravessar o Tejo. Lembro-me de pouca coisa daquela época, mas sei de algo que nunca esqueci. Tinha medo dos tubarões, sim, eu tinha de passar por uma pontesinha para entrar no barco. E se eu caísse? Se eu caísse os tubarões esperariam por mim lá em baixo e não seriam meiguinhos.
Mais tarde descobri que só há golfinhos em Tróia e baleias nos Açores. De tubarões, nunca ninguém aqui ouviu falar. Mas também, quando soube da sua inexistência, já naõ navegava mais naqueles barcos.
Sabes, depois disso, muito depois, ganhei outros medos. Assusta-me a ideia do novo habitat, eu gosto daquilo a serio, mas não consigo viver sem pessoas, sem as minhas pessoas. Também não consigo pensar que há a possibilidade de me abandonares, sim, é para ti, acho que não o farás, mas já passou muito tempo e esta nova etapa será diferente da outra. Claro, tenho medo de ti, sim de ti, tu que te estás a esconder, há coisas que não devem acontecer e, acho que essas coisas perturbam a minha expressividade aqui, por exemplo. Mais uma, não ter inspiraçao nem imaginação nem originalidade assusta-me, eu preciso de escrever. E sim, tenho medo de não conseguir, agora que entraste na minha vida e porvavelmente não lerás isto. Tenho medo de não querer, de não avançar. Ainda não me aliciaste o suficiente. Nem sequer sabes disto.
Mas um dia, sei que descobrirei que os tubarões também não navegam nestes mares.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Capas pretas a sorrirem escondidas

A primeira impressão da vida académica foi: "Eles não são assim tão maus", pronto e o inevitável: "Os trajes das miudas são bem giros"...
Muito sinceramente estou a divertir-me, o facto de entrar naquele recinto faz-me crer que entrei numa outra fase, numa outra aprendizagem e isso é claramente evidente quando contacto com as pessoas, as pessoas que já fizeram do recinto a sua casa, os doutores, os veteranos, os trajados. O ambiente que se cria, apesar de todo o constrangimento e vergonha iniciais, é de partilha e entreajuda. Eles riem-se de nós, nós rimo-nos uns dos outros embora insistam que "caloiro não ri", mas se não fosse como é, de que maneira tanta gente nova se iria conhecer? De que maneira os novatos iriam conhecer o espaço? De que maneira os caloiros conheceriam outros colegas mais experientes?

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Como é um luar azul?

Noites calmas. Não é um chá, de facto, não é dum chá que preciso. Noites calmas são simplesmente aquelas que fazem alguma diferença. Não que as minhas não o sejam, porque não são, de todo, agitadas. Mas uma noite, para ser calma, apenas tem que me fazer sentir bem. Eu gosto de olhar para o céu e vê-lo escuro, preciso de ouvir silêncio, ainda que o silêncio da cidade, como bem conhecemos, quero incessantemente que a noite seja minha. E é tantas vezes...
Verdadeiramente isolada nas ruas da minha cidade, à noite, vejo tudo muito mais bonito.
Hoje parece que a noite vai estar nublada... ainda assim, será uma noite calma que cheira a início de aulas e à rotina de inverno de que afinal até gostamos.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Drama intemporalmente branco


E se tiver morrido?

Morri.

Afinal não fui eu, foi o outro.

Mas como é que se morre?

Eu vi-te bem, falavas e respiravas. Agora já não. Mas não é só o acto de respirar que dá vida a um ser. Não pode ser. Eu não vivo com máquinas. As pessoas têm algo, algo que faz com que a sua vida seja desejada, desejada pelo mínimo de pessoas que até seja. É a essência, a alma, a personalidade... é simplesmente o que transforma a nossa existência em vida.

Mas se isso não é máquina, porque desapareces da Terra? Acredito que partes para outro sítio, um sítio melhor... mas enquanto isso, a morte assombra, assombra como palavra, como entidade, como realidade. É a perda. E a perda dói. Tenho medo que doa mais ainda durante o resto da minha vida. E tenho a certeza que os meus receios se confirmarão...

E se tivesse sido eu, queria ter um funeral cheio de gente. Acho que é bom, acho que é porque as pessoas sentiam a minha falta. Mas podia não ter ninguém.

Morte cruel, a morte só. Tristeza grande, a da alma que parte sem se sentir amada. Visão mais angustiante, a de ver um felório vazio.

A morte prova a diferença que no mundo se sente depois da nossa vivência.

A morte é muito pior se a diferença não for alguma.

Todo o humano é especial à sua maneira, não quero sentir-me só. Acredito que não te sentirás só. Não quero que alguém se sinta só. Ainda que essa solidão seja vista de olhos fechados.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

O pote é tão transparente que até parece vazio de ideias

"Então e agora? Vais para que curso?"
...

...

...

"Pois ainda não sei, ando a ver..."
Ando a ver, ando a ver, mas só posso ver mais umas semanas (e muito poucas, por sinal). Neste meu acto desesperado, em que estou a evitar constantemente usar a minha capacidade chamada "razão" para fazer uma escolha, dependente do meu "livre-arbítrio", venho falar-vos de um dos meus problemas. Nunca fui boa em escolhas, não é nenhum segredo. Bem, não é nas escolhas em sim, mas no acti de escolher. Sou a indecisão andante. Não sou psicóloga, muito menos de mim mesma, mas acho que esta minha inquietação em fazer opções se prende com a insegurança de optar pelos caminhos piores em vez de os melhores.
É claro que vejo os prós, os contras e os neutros e ainda os outro neutros. Mas nada.
Concretamente, não sei se sigo "Publicidade e Marketing" ou "História". Sim, não tem nada a ver. Preciso da vossa ajuda malta, estou num pote onde não alcanço a tampa, mesmo.
Em P/M gosto muito da componente prática: os ateliers, o estudo do comportamento do consumidor, os estudos de caso... Para além disso, actualmente o emprego parece existir em maior quantidade, no entanto devido à grande popularidade de que está a ser alvo, esta realidade pode muito provavelmente ser alterada. Outro factor que me agrada é a média ser de aproximadamente 15/16 e a minha média digamos que é elevada e não gostaria de a "desperdiçar" (compreendo a vossa indignação, a serio, mas não me julguem pelo egoísmo ok?).

H acho que é assim o campo de saber que mais admiro, causa-me uma imensa curiosidade aprender História. Sinto-me uma pessoa muito mais culta e interessante quando me entrego a esta disciplina, no entanto não sei se o plano de estudos não será excessivamente teórico para mim. Quando me vejo perante muitas opções semelhantes, caio na monotomia e perco o interesse... Mas o que tenho visto é que, mesmo durante o curso me posso dedicar a pólos de investigação variados que até me poderão integrar no mercado de trabalho. O emprego como se sabe é muito escasso nesta área, ainda para mais, eu gostava de seguir ensino secundário. Mas se me destacar pela possitiva pode ser mais fácil encontrar trabalho e quem sabe se as projeções não mudarão, uma vez que muito pouca gente está a concorrer a esta área? Frustra-me um bocadinho é a média ser tão baixa (vá atirem lá as cascas de banana!).

É isto. Não me decido. E sei que provavelmente entro na primeira opção em que me candidate, logo não há o critério "entrar na segunda opção".

Sugestões?

quinta-feira, 24 de junho de 2010

A Escola Era Azul, Também o Adeus o Será


E separaram-se essas duas almas. Duas não porque na verdade são muitas mais... Seguiram em frente até que um desses pequenos seres subiu e o outro desceu, pela rua que, muitas vezes, juntos ou sozinhos, subiram e desceram tantas vezes...
De facto, nunca mais nenhum deles passará por esta rua sabendo que aquela escola lhe pertencia. Pertencia sim, porque a escola é de todos!
De facto, nunca mais nenhum deles olhará para dentro desta com um olhar implicante e contestatário, sempre justificado (e outras vezes nem tanto).
Porque nunca mais se sentarão lado a lado, ou de costas, ou de frente nas carteiras que habitaram tantas vezes e que são testemunhas de muitas conversas. A maioria delas cusquice, ou até mesmo mal-dizer, mas aquele mal-dizer que sabia bem dizer quando nada mais se conseguia ouvir dizer ali, dentro daquelas quatro paredes, dentro daqueles pavilhões, dentro daquele portão.
Muitas coisas eram más, outras tantas eram boas. Mas nunca as aulas de secundário se repetirão. E claro que todas as almas desse liceu, principalmente as mais próximas, se continuarão a encontrar (não seria esta a verdade mais desconfiada de sempre...)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

A Saia Verde

Aquela saia verde usei, ontem, anteontem e amanhã usarei. Não, não é aquela que era da avó e que está enterrada no baú guardada religiosamente com os cheirinhos que cheiram à infância e ao antigo e às férias na terra. É a outra, a que me deste, a que gostavas muito e por tanto gostares também eu dela gosto. Mas esse teu tempo já passou e agora cabe-me a mim, erguê-la ao vento, sim porque esvoaça e não é pouco, e tapar com ela as minhas perninhas brancas e pálidas que a fazem subir às vezes. Useia-a de manhã, era camponesa antiga. Usei-a de tarde, era hippie nos anos 60. Usei-me a mim e era tudo o que queria ou queria querer ser, mas nem sempre eu. Posso usá-la em muitos outros locais, em muitos outros tempos. Podia tê-la usado em muitos outros locais, em muitos outros tempos. Mas foi ali. Mas foi naquele dia. E nesse dia aprendi que posso ser tudo, mas não deixo de ser eu.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Dourada Geração Errante e Reinante


E a luta que guia a vida?

E o sonho a conquistar?

Oh gente mesquinha e oca

e quieta e preguiçosa,

inculta e presunçosa,

nunca conhecerão o verdadeiro sentido

de ser, de vencer!

É tudo dado e abdicado

em favor dos que nada fazem

para serem realmente felizes.

O que não está, estivesse.

O que não é, fosse.

E esses ideais porque muitos sofreram?

Esses foram ganhos, mas não lembrados.

E outros não se levantarão,

nem para ti, nem para mim,

porque eles querem, podem e mandam.




E eu também.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Hoje Apeteceu-me Incendiar as Ideias com Madeira Clara


Os três argumentos contra a pena de morte:

1 - se matamos alguém por este ter morto alguém, então também nós deveríamos ser mortos e, consequentemente, o mesmo teria de ser feito a quem nos matou e assim sucessivamente (o que convinhamos, não era muito viável, haveriam órfãos, e baixas taxas de população activa e crise no sistema da segurança social, etc)

2 - o facto de a vida ser um direito ilanienável impede que alguém, considerado entidade justa e suprema a possa findar, assim não nos caberá, jamais, a nós, humanos, cidadãos no mesmo pé de igualdade, julgar sobre a vida de outrém

3 - enquanto que numa pena em prisão, caso mais tarde se prove a inocência de um condenado, este pode ser liberto, o mesmo não sucede se o mesmo for morto (a não ser que consiga ressuscitar, o que não sendo eu de intrigas, me parece pouco provável)


Assim sendo, não se pode punir um crime com outro crime e mais, por mais repressivos que possam ser os sistemas judiciais (que tendem muitas vezes a falhar), não impedem que os crimes continuem a ser praticados, temos o caso dos EUA. A redução da criminalidade é reduzida através da educação e da transmissão de valores que incutam a consciência do outro como um ser igual a nós.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Iluminação Champanhe do Vazio


-No fundo sentimos o mesmo.

-Bem sei o que te atormenta, o vazio que te engole, o abraço porque esperas. E melhor que ninguém, sei que o consolo é tarefa árdua.

- Essa angústia que te consome e não te permite ser feliz, os pensamentos em que te afogas e não te deixam viver. Nada, nada me sabe melhor do que esquecer e seguir. Pegar no bom e amar. E sorrir.

-Dor de alma é o que me consome por saber que não consegues superar, que te é impossível superar-te.

-Não ter amparo, ou não o sentir é estar num túnel sem fundo. Mas também eu anseio a luz. Também tu a poderias adiantar, a poderias desejar com muita, muita força.

- Eu, não sei como viver.

- Quem melhor que tu para te ensinares? Sê dono do teu próprio destino. Entre mares e desertos, tempestades e calmarias, és tu quem pode encontrar o caminho mais ameno. Nesse caminho não faltarão, duendes, ou fadas, ou até mesmo cães falantes ou golfinhos voadores.

sábado, 10 de abril de 2010

Se nesta Rua Apenas Existisse o Azul-escuro ou Preto dos Impressos, Estavamos Mal.


Se calhar exigem, se calhar exigem que deixe de fazer escorregar as pernas quando o chão está gurduroso, ou deixe de estupidamente dançar quando mais ninguém vê, ou de fazer aqueles aldrabados passos de ballet que sempre quis aprender. Se calhar exigem que deixe de fingir que toco piano com os dedos quando estou a trautear uma cançao, ou que a deixe de cantar por mais desafinada que esteja. Se calhar exigem que deixar de fazer vozes irritantes e de me rir com os lábios todos rasgados. Ao menos que não precise de deixar de pular, sem ser a pés juntos. Saltitar é isso mesmo, em vez de andar. Será que tenho de deixar de rir? E de fazer textos como criança? Talvez não possa continuar a tapar a boca e a cabeça com o lenço, sonhando estar nas Arábias ou atá-lo atrás das costas criando uma nova peça de roupa, ou ainda prendê-lo à cadeira, vendo-me como dama indefesa atacada por bandidos.
Tudo bem, que o façam. Que me acusem de o ser, ou de não ser. É me inconcebível fazer cara sizuda para os que me olham só para parecer mais velha. Ou para parecer que tenho a idade que tenho. Sou incapaz de sorrir apenas com o alargamento dos lábios cerrados só para parecer mais velha. Ou para parecer que tenho a idade que tenho. Não me é sequer permitido deixar de fazer corridas ou concursos de insultos (com a mana) só para parecer mais velha. Ou para parecer que tenho a idade que tenho
. Não guardo, não espero. Há momentos em que tenho de me portar bem, outros nem tanto. Enquanto isso e ainda que tenha sempre a mesma idade, não quero deixar de fazer o que me apetece. Mas claro que não ando a fazer estas coisas na escola, não é. A questão é porquê? Será que sou assim tão anormal ou ninguém tem esta necessidade de avariar? Gentinha pobre de espírito que se contrai e endireita, se ergue e se fixa, se endurece e se esfria deixando apenas parecer. Parecer o que é.

Ah! E sei de quem goste de mim assim, tá?

Mesmo que Bastasse, a Transparência Não é o Meu Forte


Devia, devia não pensar
ou pensar só um bocadinho.
Devia escrever com atenção,
mas sem apagar depois.
Devia voltar a escrever aquilo
que realmente quero ou preciso.
Devia falar e dizer o que penso,
não que o que penso não o possa dizer,
não que o que penso seja mau de dizer,
mas apenas porque não o consigo fazer.
Devia pensar mais em mim
e fazer o que não gostas,
ser persistente até mais não
com a ideia que odeias
e fazer cara feia quando não me ouves.
Devia aprender a dizer não.
Não, não.
Não quero, odeio, é feio.
Pronto disse.
E agora?
Não quero magoar mas não me quero magoar.
Se eu ouço, que me ouçam!

segunda-feira, 29 de março de 2010

O Céu Azul é Omnipresente


Apercebi-me de que o Sol é igual onde quer que estejamos. Bem, não é bem o Sol, é o ar. Mas também não é o ar, é o meu espaço, ou o espaço onde estou. Vá, onde quer que estejamos talvez não seja verdade, mas o facto é que consegui sentir a mesma brisa e o mesmo calor e o mesmo silêncio de Paris. O mesmo silêncio? Sim o dos pensamentos. E por momentos senti: as pombas, os pardais, as árvores e o Sol. E depois pensei, é Primavera, e assim associei a lógica das estações. Quem sabe se a sua existência não tem como fundamento próprio juntar bocadinhos de elementos comuns de ano a ano. É possível.
Ainda assim, e tal como as estações, que embora mudando de data, aparecem sempre em todo o mundo, também eu, e também tu, seremos sempre os mesmos. Com menos ou mais calor, mais ou menos chuva, menos ou mais vento. E de que quem não nos livramos é dos dramas pessoais e os problemas chatos, que vão connosco para aqui, para lá e para acolá. Em contrapartida, também o nosso Q de coisas boas não nos deixa no aeroporto.

sábado, 20 de março de 2010

Novos Valores Amarelos se Levantam

Tenho medo disto! Medo deste mundo.
Descobri na TV um programa belíssimo, em que as mães inscrevem incessantemente as suas crianças em concursos de beleza. Para que destes saiam vencedoras, não poderiam, de todo, faltar horas de maquilhagem e cabeleireiro, fatos de plumas e birras q.b. Não serão estas impacientes e inoportunas birras, que constituem os dramas íntimos destas mães, de algum modo (ou de todos) justificáveis?
Adivinhem lá onde é que estes pequenos espectáculos, de pequenas exibições de pequenas aquisições a render (ah não, chamam-se filhos!) se verificam... huum... vá lá, é fácil...
(sim, claro que é aí, nos EUA).
As crianças choravam não por fome, não por sono, não por febre... porque não queriam brincos, nem laca, nem rímel. Muitas têm 4 anos. Acho criminoso, sujeitar tão pequenos seres a esta pressão, a estes químicos, a estas roupas. Para quê? Para os pais comprarem carros com o dinheiro que os filhos recebem por mostrar a sua beleza tão infantil, tão ingénua e tão... artifícial.
Que valores, que valores são estes? Mães que põem a competir irmãs, tendo evidentes preferências. Mães que afirmam que o importante é o jurí gostar. Mães que exigem sorrisos aos filhos ainda que forçados e sem conteúdo.
Que resultados serão estes? Filhos frustrados por serem submetidos àquela palhaçada. Filhos são auto-estima e com medo da rejeição por não ganharem os concursos. Filhos que não gostam dos irmãos. Filhos que pensam que a beleza é o motor da sociedade.
E não será isto verdade? Não será a beleza, a superficialidade, a caixa, aquilo que interessa realmente, agora?
Tenho medo disto! Tenho medo deste mundo.
(para já não falar nos milhares que são dados para os garotos se pavonearem em frente a uma plateia enquanto que outros milhares morrem de fome e de sede)

terça-feira, 2 de março de 2010

Saberei as regras desse jogo azul sedutor?

Chegas-te de mansinho, retribuo. Não há espaço para palvras, mantenho silêncio. Despertas em mim essa curiosidade, a sede, o perfume. Torna-se hábito. Mas eu gosto, e tu também. Será? A dúvida torna-se pesada, perdi-me nesse teu pensamento desértico... e como está frio! Continuo, não há-de ser nada. A circunstância separa-nos, mas presenteia-la com a distância. Que bom era se de tão distante estivesses perto de mim, mas não será certo, certamente. Não interessa. Regressas. Agora és tu, não eu. Sentes-te como um arqueólogo no Egipto, desvendas esse mistério. Na serena quietude do meu ser, nada me faz reagir. Apenas deixo o destino correr. Um eclipse, será esta a vontade do destino? É-o indubitavelmente. Caio nesse poço. Não! É um precipício, mas lá em baixo... lá em baixo há vida! É um dia de Sol, sem uma única núvem e passeio sob o mesmo. Só? Não sei se continuas comigo... Desculpa, afastei-me do ponto de partida. Queria ter correspondido, mas preferi guardar, sem torbulências, esse ar que ouvi, trazido pela doce brisa de noite de Verão, o Inverno estava quente.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Bolha Cinzenta saudosa de Rosas Vermelhas

Não quero saber o que vão pensar da minha escrita mais comum, mas é assim que tem de ser. Quero exprimir o que sinto e não usar os meus sentimentos para construir maravilhosas composições das quais me vá vangloriar, porque não sou eu que tenho de evidenciar. É simples: não sei o que sinto, tou estranha. Importante para mim, claro, muito. Ensinaste-me a escrever o meu nome, a dar nome aos peixes, a limpar os ouvidos depois do banho, ensinaste-me a ser quem sou e agora… eu acho que não consigo acreditar, foi tudo muito rápido. Não, não acredito. Mas quer dizer, acredito porque não me estão a mentir. Não, não quero ver para querer. Não quero ver, tenho medo. Tenho medo de te perder. E não choro muito, não sei se por estar sempre acompanhada, se por ainda não acreditar de todo, ou porque pura e simplesmente me esqueço e sigo com a minha vida. Acho que estou a evitar o sofrimento, ya, lá estou eu a tentar uma das teorias froidianas para o que sinto. Mas se calhar é verdade. Se calhar esqueço-me de propósito, se calhar tiro importância de propósito, se calhar relativizo a questão e coloco-a nos outros de propósito. Mas não quero, de todo, deixar isto em branco. Sinto-me estranha. É assim uma coisa esquisita, que está no coração. Parece uma bolha. Desculpa, desculpa por tudo a sério. Fui muito mal criada, muito mal-educada. Tinha sempre resposta e nunca obedecia e fazia muitas birras. Acho que sempre fui um bocado egoísta até agora. A Ti te agradeço tudo. Desde os laços que dou aos ténis até à perfeição nos tpc. Aquele Amor que sempre me deste. Aquela tentativa de me cultivar valores importantes que fazem de mim o que sou hoje. Não tão perfeita como deveria, mas um protótipo de. A Ti te garanto que não passarás como se nada fosse, a Tua obra é magnífica e isso vê-se e isso sente-se. A prova de que os bons vivem felizes. Pelo menos assim acho, não tens noção da quantidade de pessoas que te adorava. Adoravas tanta gente. A ti sempre, Mãe, minha Linda Mãe, nunca te esquecerei (GOSTO MUITO DE TI, OUVISTE).

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Amor tão Branco e tão Ilimitado


"Da noite que me cobre,
Negra como um poço de alto abaixo,
Agradeço quaisquer Deuses que existam
Pela minha alma inconquistável.

Na garra cruel da circunstância
Eu não recuei nem gritei.
Sob os golpes do acaso
Minha cabeça está sangrenta, mas erecta.

Além deste lugar de fúria e lágrimas
Só o eminente horror matizado,
E contudo a ameaça dos anos
Encontra e encontrar-me-á, sem temor.

Não importa a estreiteza do portão,
Quão cheio de castigos o pergaminho,
Sou o dono do meu destino:
Sou o capitão da minha alma."

William Ernest Henley


E se ele "passou quase trinta anos numa cela, e conseguiu perdoar todos os que lá o meteram", como pode ser tão grandiosa a nossa pequenez que eleva a mais alta mesquinhice à condição de obstáculo ao perdão?

Descobri a plena bondade neste Homem, Mandela. Agora já posso juntar mais este pedacinho em mim, junto a Luther King e Madre Teresa. Pudesse eu ser tão valiosa como eles, que dentro da minha cela de largura de braços em que me encontro conseguisse ver o mundo e amá-lo, tanto como me amo a mim, tanto como às vezes me custa a acreditar que sou capitã da minha alma, tanto como me odeio sempre que me importo com a estreiteza do portão.


P.S. Vejam o "Invictus", não é dinheiro deitado fora, garanto*

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Fragmentação tropicalmente cromada


"Saudosa de lembranças remotas,

procuro no tempo a felicidade

que espero encontrar.

Engenhosa e intelectualmente falando,

requinto-me entre palavras que sei

de amor, de amor por mim

e pelos outros.

Com um alegre regresso ao que

dantes fui, consigo endireitar-me.

E forte consigo sempre ser,

na classicidade poética da vida."



"Independentemente de gostar ou não, o importante a referir é que muito pouco do que me rodeia me agrada totalmente. Claro que gosto do mundo sim, principalmente eu que ainda creio em utopias. Mas a ânsia de chegar à perfeição e de fazer com que o mundo a atinja, move-me a lutar e falar. Posso ser pequena, e sou-o decerto. Mas enquanto puder falar, muita coisa poderá mudar!"



"Sei dessa tua perfeita sintonia que comigo crias. Todas as frases inacapadas que deixas que eu, pelo menos em pensamento complete. Conheces-me quase melhor que eu, o que não é difícil, dada a minha complicação perceptiva das coisas. Não o sabes. Não sabes isso, isso mesmo que eu sei. Inspiras-me. Consegues fazer viver o eu que tantas vezes se esconde. Em ti sinto a liberdade. Sinto-me feliz. Não me deixes, por mais afastado que possas estar..."



Andei a intrigar-me com isto até que decidi testar: será que tal como Fernando Pessoa também eu me consigo dividir? Sei sim, que nada em mim é igual. Já me disseram versátil. Acho que é uma qualidade. Mas acho fantástico poder-se ser outros que não nós, daí a minha paixão pelo teatro que aqui ainda não falei. É Magia, tudo Magia.


quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Amarela constância que pouco dura


É a paz. Sim é a paz. Aquela que vem com as bolas prateadas que giram, que giram do alto dos prédios e projectam a luz, não sei o que são, mas sei como são. Rodam, rodam, rodam, enroscam e desenroscam e não saem do mesmo sítio. Também deveria assim ser. Também isso eu nelas admiro. E são elas que me fazem viver todas as bolas prateadas que giram do alto dos prédios e projectam luz, o Sol, que já vi. Já as havia esquecido, confesso. Mas depois de olhar por aquela janela do terceiro andar, aquela janela desesperada pela rua, pelo ar, pelo Sol, que a rotina não permite aceder, vi luz e enchi-me de alegria e depois… parei. Vi e senti e ouvi e envolvi-me naquela sensação. A sensação que há longos anos não vivia, o facto de me concentrar nas bolas prateadas faz-me esquecer tudo o que não importa. Faz-me estar ali. Pacificamente contemplando o mundo, e contemplando-me. Saber aquilo que sou, ao som do silêncio, debaixo do céu azul, ainda que com frio, pensativamente me entregando ao girar das bolas prateadas do alto dos prédios. Fiquei feliz, lembrei-me que sou feliz. Soube de novo que a felicidade eu sinto, eu sinto sem os outros sentirem porque eles não precisam de sentir.
E continuei, debaixo do mesmo céu azul sem nuvens, de uma claridade remota que me faz ser forte e ser eu e ser livre e amar. Continuei depois a andar, a andar devagar como não faria antes. E a sentir-me bem, com aquele momento que descobri ser único e ser meu. Lembrei-me de onde esse céu me é familiar, é do Carnaval acho. Também do quintal.
Mas e, contrariamente ao que racionalmente queria fazer, confesso aqui a minha pequenez. Talvez a coragem de a admitir aqui, junto do que me faz feliz. Mas a pequenez de não ser capaz de fazer o que sei ser certo, o que sei ser bom. Muito me movo ou promovo pela igualdade, fraternidade, liberdade e mais “dades” que sejam politicamente correctos. Mas no fundo, sou simplesmente igual a todos os outros, penso demais no que os outros de mim pensam e não no que os outros sentem, estes sim os outros. Sou feia. Sou feia e má. E sou igual a todos eles. Mas pelo menos tenho consciência disso. Acho que vou tentar remediar algumas coisas. Eu sou eu, sigo-me por aquilo que sei ser melhor, ganharei muito mais pela autenticidade, acredito.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Inúteis Lágrimas Liláses que Anseiam Mudança


“as pessoas vão dizer: «é horrível!» e continuar a jantar.”


Esta é uma das frases (não asseguro que seja literalmente assim) presentes no filme “Hotel Ruanda”. Ainda só vi a primeira parte, mas acho que não devo aguentar muito mais, claro está que só o vejo obrigada, na aula de geo. Mas é isto que mais me angustia, o facto de a única coisa que eu consiga fazer é chorar.
Por isso é que me quero aventurar, por isso é que quero justificar aqui, aquele desejo de férias alternativas que muitos não compreendem. Desde que surgiu a ideia de trocarmos a viagem de finalistas por um mês de voluntariado com crianças num país pobre que não consigo pensar noutra coisa. É tudo muito alto, é tudo muito assustador, é tudo muito cativante! Claro que tenho medo, óbvio que tenho medo. Mas quero fazê-lo, qualquer coisa. Aqui, ali. Sinto uma energia tal por dentro que me sobe da barriguinha até à boca e me faz sorrir, que não consigo sequer pensar em muitos contras. Quero crescer, estar algum tempo longe das coisas terrestres que nem sempre (ou nunca) importam. Como diria Fernando Pessoa: "Despi a realeza, corpo e alma, e regressei à noite antiga e calma como a paisagem ao morrer do dia." É certo que ajudar posso fazer a minha vida toda em qualquer lugar. Mas o meu presente aventureiro é agora, é hoje! Depois haverá a faculdade, depois haverá o emprego, depois haverão os filhos… E eu sempre sonhei com isto, eu preciso de crianças para viver! E ainda que não sejam crianças, eu não posso continuar a ver este espectáculo, para o qual nem o bilhete paguei, sem poder manipular o cenário! É no Haiti, é no Ruanda, é na Etiópia, é na Índia, é na Colômbia… pode até ser em Angola… decerto o meu trabalho será preciso e, mesmo apenas durante um mês, saberei que realizei uma obra que nunca haveria de realizar se não tivesse partido. E não teria entrado na vida daquelas pessoas, naquele momento, naquele lugar. E um dia Madre Teresa de Calcutá disse “Sei que meu trabalho é uma gota no oceano, mas sem ele, o oceano seria menor.” E entre as minhas pesquisas de suporte às minhas argumentações encontrei outra que faz todo o sentido: “O que você passou anos construindo, alguém pode destruir da noite para o dia. Construa assim mesmo.”
Por vezes nada muda porque sabemos que isso muito convém a alguns, mas se poder mudar a vida de poucos dos muitos, já serão menos a sofrer.


E outra coisa, este mês não invalida de todo a nossa semana de “bobagem” no parque de campismo, na casa alugada ou na pousada da juventude que todos nós esperamos. Aguardo ansiosamente por esta “rambóia” conjunta, sabem bem*

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Inocente Felicidade Rosa das Princesas e Fadas

Não sou mais como era. As brincadeiras, a força, a magia, tudo aquilo que era bom, ate a irreverência. E os que me amavam, amam certamente, que despendiam do seu tempo comigo, e despendem, e daquele brilhozinho com que me olhavam e adoravam ver-me sorrir. Ainda adoram, ainda olham mas não é igual. Claro que nada como era o é agora nem eu, e quem sabe se não foi essa a maior perda de todas, orgulho-me de quem sou, mas sei que tudo outrora era bom e agora nem tudo o é. Devo ter crescido, devo ter perdido a luz e como não queria que tal acontecesse! Adorava-me! Agora a vida é diferente já não necessito daquele aconchego eminente (ou erramos quando isso pensamos), daquela musica no rádio do carro nos dias de chuva, daquele encontro com o pequeno Igor e das pinturas de Carnaval da caixinha que cheirava a isso mesmo: pinturas de Carnaval. Mas amo-vos intensamente e se amo! Desde os pequenos dias em que lia o livro do ursinho que tinha uma toalha aos quadrados vermelhos no navio (não tenho a certeza se era um ursinho), aos que colocava imans novos no frigorífico até aos que ficava horas a fio perdida no tamagochi que me haviam dado e o qual muito estimava. Agora vejo piscina, aeroporto, comboio, brincadeiras no sofá e cabeça no chão, aquele velho hábito que difere agora na ausência de alcatifa tal como o igualmente provocador de sermões: secar as mãos ao pano branco da cozinha. Fui tão feliz e sou, mas o tempo não volta nunca para trás e nunca mais poderei sentir a grandeza da cozinha nos dias de festa, da noite de chuva, das músicas desse tempo, do caderninho das Spice. E mais, o jardim que vi na primeira vez, o mendigo para quem sorri no metro e que gerou pânico de me raptarem: tão bonita e indefesa era eu de olhos e cabelos claros, menina de seus pais e de seus tudo, aqueles que a conhecem desde bebé e a criaram tão bem quanto os primeiros, mas com mais tempo. E a eles, depois de toda esta angústia de perceber que talvez não seja como queriam que fosse, ou pelo menos não seja como era em criança, o meu MUITO OBRIGADO, porque ainda me orgulho de ser quem sou!

É PARA SER LIDO AO SOM DESTA MÚSICA.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Grená, porque não? Hoje o dia é de avarias mentais


Pode não ser este o caminho, mas a minha individualidade cheia de gentes, é capaz de bastar. Nesta quietude agitada com que consigo dar acção aos verbos que logo deixam de o ser, sinto-os. Distantes, desviantes, devorantes, quiçá? São esses olhos que pouco procuro e raramente consigo encontrar e que confusos e dispersos podem observar-me. Não será este o meu mítico e teimoso erro de ver o que lá não está como quem espera pelo que já passou? Se a poderosa magia existe pode não sê-lo aqui, mas e porque não? A minha racionalidade relativizante será assim tão pouco sensível a estas velhas novidades que as sinta com indiferença? Ou estará a intriga perene do meu eu que emoções mostra, querendo revelar-se mais alto e mais além?
O certo é que esse tacteado hesitante um dia chegará onde almeja, de uma forma ou de outra. Com romanescas e inspiradas intenções e apaixonantes sonhos iluminados ou apenas com sorrisos amistosos de quem dá aquilo que pode. Chegar-não-chegar, olhar-não-olhar, espreitar-não-espreitar por aquele cantinho a que vulgarmente chamamos rabinho do olho, são as ilusões eminentes daquilo que vai preenchendo lacunas que ambos sabemos completar.
A perfeita sintonia que em momentos de devaneios consigo conquistar, sozinha ou não, por aquilo que tenho vindo e posso vir a receber, mesmo que de poucos e pequenos bens se trate.

E agora, hein? Inspiração ou exposição? Caros leitores que por norma são as pessoas que se metem na minha vida e a que costumo chamar de amigos, entendei-vos com esta mensagem que fala de entrelinhas do destino, entrelinhas essas que podem tentar entender, se eventualmente e teimosamente existirem.