terça-feira, 24 de novembro de 2009

Leve Brisa Azul da Noite


Cheiro a ti.
E o perfume que em mim
fica e que de ti é,
é profundo e intenso,
porque de ti assim é.

Quando por vezes te sinto,
é pelo teu perfume
que sonho e tremo,
e quase cândida fico.

É a saudade que de ti tenho
que assim me deixa,
a vontade de te ter perto
mas de longe estar e a vontade
de bem de perto cheirar,
aquilo que me podes dar.

Apenas o perfume tenho
e com ele me contento,
basta para aliviar
a ânsia que me não
leva o vento.

Mas depois tudo se mistura,
floral, doce, suave ou frio.
E aqui se perde o meu nariz,
nos pensamentos que teus
Poderiam ser.

E lembro-me de outras eras,
de histórias e lugares.
E pessoas facilmente me invadem
com perfumes que outrora conheci
mas de perfumes não me esqueço
e não me esqueço de ti.

Desejava mesmo
era poder ter-te a ti
e o passado que vivi.

Cheiro a ti e é bom,
porque contigo posso estar
e sinto que pertenço
verdadeiramente a um lugar.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Palácio de Magenta Amor


Outrora corríamos pelos corredores, largos, fundos, sob um céu de sonhos ondeantes, esculpidos por gente grande e escondia-me na alcova real, de mantos rosa de veludo e de desejos dourados, de paixões espelhadas e encontrava-te depois coberto pelo cortinado de seda azul da noite, envolto em mistério, no mistério que me seduzia e nos jurava amor. Passávamos a sala de rompante e tropeçava no sofá, nas caneladas do destino, e sabia de certo, que, desatenta, iria de novo contra algo, mas não parava, e tu corrias atrás de mim, apenas paravas com medo de fazer as porcelanas cair, mas depois continuavas, e seguias-me até ao quarto dos infantes. Subitamente aparece o mordomo, paramos, coramos, continuamos a ver. Ele passa e entramos, agora sim éramos iguais, ambos crianças, simples, que no meio da ingenuidade traçávamos futuros, e no meio dos livros de histórias de encantar que narravam histórias de reis e rainhas, príncipes e princesas, condes e condessas, adormecíamos no tempo. Investes, e eu fujo, para a cozinha, agora. Passas a mesa, eu pego na frigideira, pesada, tem a força do nosso amor, ias levar com ela, mas simplesmente me abraças e a carregas. Põe-la no lugar e agarras-me. Até hoje. Espera!, disse eu, e o terraço? No terraço vivemos agora, com as rosas da fina diplomacia, e as giribérias que a mim lembram alegria. Com os cravos, e as dificuldades, e as túlipas e os amigos. O Sol sempre raia lá em cima, e no banco nos sentamos a contemplar a vida, as heras trepam pela parede como o nosso amor que cada vez cresce mais, e o perfume? Esse acende-nos a paixão e move-nos na vida.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Esvazia-se no Cinzento


A minha stôra de Português diz que "A saudade não tem tradução. Podemos traduzi-la, mas a saudade portuguesa não é como as outras." Sempre me pareceu um bocado duvidosa esta afirmação, já a a havia ouvido de outras bocas... mas se calhar é verdade. Relativisando o assunto, podemos ver que desde os descobrimentos, a separação de famílias tornava evidente a saudade, este sentimento de falta, de angústia, de querer estar e não conseguir, de querer tocar e apenas ver o vazio... Mais tarde com a emigração, a busca por uma vida melhor que separava tantas casas e, a guerra, a guerra que trazia a incerteza do regresso a casa. A ausência doi, mas não saber se haverá a possibilidade de novamente voltar a ver uma pessoa, magoa e fere muito mais. Sempre fomos um povo sofredor e somos, excessivamente, quentes. Quentes, acolhedores, próximos... e assim nota-se muito mais a ausência.

A saudade é algo que me invade muito, quando estou mais frágil ou quando me fragilizo com ela mesma.A minha estabilidade é posta em causa quando alguém sai da minha vida, ou quando há essa possibilidade. Não suporto a dor de perder alguém. Quero tudo assim, tudo igual. Ver-me longe de alguém que amo, é uma questão que nem consigo evocar, mas às vezes, a realidade evoca-a por si própria e aí tudo desmorona. Mas há que viver com isso, e nunca cair na ilusão e na esperança de que as partes de nós que por aí circulam, sabem que os amamos verdadeiramente.