sábado, 27 de novembro de 2010

Visitas Roxas

Não sei como foi, nem porque foi. Só sei que quando me vi, já estava aninhada em ti. Epá e aquele abraço soube-me por mil. Precisava. Precisava daquilo e de muito mais. Pode ser o pré, o pós ou o durante mas a verdade é que as coisas não andam a correr muito bem. Irrito-me, falo mal, fico mal. E nada muda. Vá, sejamos sinceros, muda. Isso dói-me. Dói-me ainda mais, porque já me doeu mais, outrora. Mas ver-te e conseguir com que me roubasses um abraço é daquelas coisas que me fazem pensar. Pensar sobre tudo o que foi, sobre tudo o que é. E é muito pouco. Continuo sempre a encontrar-te e isso é bom. É óptimo. É reconfortante. Pena foi ter-me posto propositadamente entre duas feras, como sempre, mas pronto um dia enfrento-as.
Agora, só quero lembrar-me da tua aconchegante camisola. Se...

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Etiqueta cinzenta "Made in China"


Caixas, pacotes, sacos e paletes. Uns quantos braços descarregam, deste lado do mundo, uma grande variedadede coisas castanhas e cinzentas. Há quem vá. Há quem volte. Há quem tire dum lado. Há quem ponha noutro.
Tudo maquinalmente organizado com um fim. Qual? Não sei bem. Provavelmente a venda de coisas. De muitas coisas e de muitos tipos.
Sinceramente, não gosto muito da palavra. Coisas...
Máquinas essas de tez sul-asiática que tentam, há já vários anos, a sua sorte num país que, não se dizendo racista, deveria comprar mais dicionários.
A impessoalidade daquelas caixas, dos pacotes, dos sacos e das paletes transporta a insignificância e o anonimato de muitas vidas. Da do motorista da carrinha e dos muitos filhos dos senhores das barraquinhas. Dos bagageiros nos vários países e dos longínquos operários "made in China".
De facto, são apenas isso, coisas feitas para fazer coisas. E bem sabemos nós que muitas dessas coisas são muito pequenas. As que fazem coisas. E de alguma coisa serve?
A industrialização legítima com base em ilegítima exploração favorece um legítimo desenvolvimento económico.
Economia que cresce com o trabalho maquinalmente organizado de deslocar caixas, pacotes, sacos e paletes. Economia com grandes implicações ( e como esta palavra cheira a justificação) que não permite a acção dos senhores perfeitos da comunidade internacional que todos acham que existem... C-O-M-U-N-I-D-A-D-E I-N-T-E-R-N-A-C-I-O-N-A-L.