sábado, 9 de abril de 2011

Vermelho, cor dos sentimentos

Então as relações humanas são intrigantes? Tão intrigantes que se conseguem identificar num autocarro. Aqui se simplifica aquilo que os teóricos definiriam por complexo. Ela era a Kika do Dragon Ball e ele um "cavajeste" qualquer duma telenovela brasileira de há alguns aninhos. Sim, sim, bonita demais para ele. Mas assim que conseguiu deixar de a abraçar, já à porta do autocarro, ela disse-lhe adeus, e voltou a dizê-lo quando o autocarro deu a volta. Não era um autocarro até Trás-os-Montes, nem tão pouco até à Margem Sul... mas agora a Kika talvez se sentisse sozinha: apesar de tudo agora a sua atenção era apenas requisitada por aquele pequenino ser dentro do carrinho. Uma atenção que se traduzia em caretas e palavras com poucas sílabas. Mais à frente estava o ajuntamento típico, um homem, uma mulher. Ela encostava a cabeça e ele beijava-a. De repente salta um terceiro olhar daquele banco, afinal, já não eram dois mas três. O último agora na idade dos porquês. E no fundo, desenhava-se banda-desenhada com banda sonora de David Fonseca. O seu ar cosmopolitano de Londres de quem, apesar de ter estilo, está preso a uma rotina, suscitava agora o interesse dela que ia batendo o pézinho ao som da música que ele garantia. Na mesma fila de bancos, no lugar junto da janela. Estes eram para já os seus interesses em comum. E já se estavam a dar tão bem... Agora o pequeno ser sai do carrinho nos braços da mãe que o apresenta ao menino dos porquês. E riem-se muito. Mas também a multidão preencheu os bancos vazios e os meninos cá de trás já não se conseguem ver... Volta a esvaziar e voltam a estar platónicamente juntos. Uns separados sem querer, outros juntos e outros que se poderiam juntar. E depois?

quarta-feira, 23 de março de 2011

Ajustamento azul-escuro

Há escolhas estúpidas. Umas que se revelam à partida estúpidas, outras que o fazem no fim, e outras que por seu lado mostram a sua estupidez intermitentemente. O pior é que há decisões estúpidas que necessitamos tomar, ou porque o mundo assim o dita, ou porque somos estúpidos. Por vezes ambos os factos levam à decisão.
Tenho algo, a que chamamos livre-arbítrio, que me permite fazer escolhas. E se isso não se verificassse seria, concerteza mais infeliz. Mas as minhas escolhas nem sempre me trazem grande felicidade. Mais até porque está sempre alguém a lembrar-me do quão perfeita não sou. Não o nego, seria estúpido se o fizesse. Mas se perco dias da minha vida a levar uma esolha às costas como se fosse ao cólo, a perfeição podia dar um jeitinho. Nem sempre custa, mas há vezes que custa demais.
E ninguém é capaz de descer do pedestal iluminado e descalçar os sapatos de cristal, bem como os códigos de boas maneiras e os conceitos eruditos para voltar a descobrir quem conheceu antes de quase tudo, e de quase nada. E a tristeza ganha.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Verde- Tropa

Aquilo até estava a tomar um rumo normal, até que tive consciência das palavras. Das palavras que proferia enquanto erguia a arma. Lembro-me lá do nome dela. Nem tão pouco me preocupo em fazê-lo. Pensemos que era uma basuca XV 30 000 com cano partido.
Ainda atónita, perguntei à minha parceira: "Será que ele já matou alguém?!". Era a brincar. Não era a brincar. Não sei. Mas também, saber se o portador de tal instrumento já tirou a vida a alguém não é importante.
A importância reside no "Apontado para a nuca faz logo um buraquinho que é uma maravilha". Não no tom irónico das palavras, mas na essência das mesmas.
Nós não estamos em guerra, mas se estivessemos aquelas armas serviriam para tirar a vida a alguém, alguém que, se calhar, está obrigado a permanecer naquele lugar, àquela hora. Ou alguém que simplesmente transporta as armas com os mesmos ideais de quem lhe tira a vida.
A arma não é um brinquedo, nem um troféu. É uma sentença.
E depois ainda me perguntam se oq ue não me prende lá são os baixos salários...

Obrigatoriedade de Dar, Receber e Retribuir em azul

Conceito de comunidade imaginada: só é uma comunidade se, do encontro ocasional surgirem relações de dependência e solidariedade. Mas é imaginada. E, por isso, é livre e anárquica. Admitamos que seria estimulante: a junção da ingenuidade com a sabedoria. Que relação fatídica... mas maravilhosamente condicente. Era um risco que talvez corresse, apesar de estar à priori condenado pelo meu superego. A troca seria mais que equilibrada.

A Carta Amarela do Tempo

Eu sei que tenho deixado isto assim meio abandonado, mas tenho escrito, acreditem. Tenho escrito outras coisas, noutros sítios. O problema é transcrevê-las para aqui. Mas hoje dedicarei-me a fazê-lo!

Costa do Marfim
Não tenhas medo. Está tudo escuro, eu percebo. Mas não tenhas.
O pai e a mãe já vêm. Eles sairam, mas voltam. Não sias à rua, as pessoas estão confusas e não andam a fazer coisas boas. Não fiques em casa. Pelo menos, não sem escolheres um sítio como esconderijo. é que essas mesmas pessoas podem entrar pela tua porta dentro. Mas não te assustes. Por favor. Elas procuram algo e, não encontrando, voltam para a rua.
Procuram coisas de valor, não posuis. Procuram armas, infelizmente sabes o que são, mas não as tens. Procuram álcool, também não tens. Então procuram o teu pai, ou atua mãe. Para coisas distintas. Mas sairam. Eles voltam, já te disse.Mas depois de tudo isto.
Depois do sangue ser limpo das ruas pela chuva, depois do cheiro a pólvora e a morte se diluir com o vento, depois dos gritos das balas se calarem com o tempo.
Eles voltam.
Tu, inocente, terás de novo uma família. Terás a fome saciada e a debilidade curada. Enquanto isso, espera, espera como já esperaste. Espera que o mundo veja aquilo por que passas agora e o jogo em que tranformaram a tua vida.
Não queres um governo.
Queres paz.
Não tenhas medo.
Hey! Ainda te manténs acordado?
(o texto já tem uns tempos)