
-O que é?
-Eu tenho que…
-Não vais comigo à festa, eu sei… tu não gostas dessas coisas.
-Não é isso, eu tenho que me ir embora.
-Sim, eu sei, vais passar as férias em Londres, na casa da tua prima. Já me tinhas dito.
-Não estás a perceber, eu vou-me embora… Para sempre!
-Para sempre? Mas porquê, eu amo-te! Não te podes esquecer de mim assim. Não podes deixar-me assim. Não podemos acabar assim. Vais para onde? E, porquê?
-Os meus pais vão mudar-se. Pensa, eu já cumpri a minha missão.
-Missão, mas qual missão?! A tua missão é ficar ao meu lado para sempre! Eu venero-te, e eu sei que tu também me amas!
-Sim, mas escuta. Tu eras frio, eu tornei-te sensível. Tu eras desconfiado, mas confiaste em mim. Fazias-te de intocável, mas no fundo precisavas de alguém que te tocasse. Eu toquei-te no coração, na ferida que teimavas em esconder. Eu ouvi-te, eu curei-te. Juntos tornámo-nos mais corajosos. Eu fiz-te perceber, que não é a esconderes a tua fraqueza, que vais ser mais forte que os outros. E que não precisas de ser mais forte que os outros.
Eu amo-te assim. Eu amo-te como és! O que importa se ganhas mais? O que importa se desafias mais? O que importa?
Tu agora compreendes. Tu deixaste de ser aquele que se ri dos outros e que faz os outros rir, mas que no fundo se revê naqueles de que se ri.
Tu és bom, tu és o meu herói e, agora tu sabes isso. Tu sabes que nunca ninguém te abandonará. Tu sabes que não precisas de ser rebelde para que gostem de ti. Tu és tu mesmo.
-Eu sei isso tudo, mas eu sou assim contigo ao meu lado. Assim que entrares no carro e que eu nunca mais te vir, eu vou voltar a ser o mesmo. O mesmo parvo sem rumo na vida, que nunca chegará a ser ninguém porque não admite que é humano tal como todos os outros.
-Isso não vai acontecer, tu nunca foste má pessoa, não é agora que o vais ser. Foste orgulhoso? Sim foste. Foste presunçoso? Sim foste. Foste um pouco egoísta? Sim é verdade, foste. Mas se tu reparaste, todas estas formas verbais estão no pretérito perfeito. Tu já não és assim.
-Pois não, não sou. Graças a ti. Mas, e quando tu me deixares?
-Nada vai mudar. Porque quando alguém nos mostra o correcto, nós já não conseguimos fazer o mal. Porque alguém nos mostrou o sofrimento que causamos aos outros e a nós mesmos. Eu acredito nisto e, sei que tu também acreditas.
Encontrarás alguém. Alguém que já terá o terreno preparado para te amar e para ser amado por ti. Foi esta a minha missão.
Talvez a tua missão seja fazer esse alguém feliz, mas não eu.
Eu nunca te esquecerei. Mas o tempo cura tudo e, um dia vou lembrar-me de ti, como uma pessoa maravilhosa que me fez viver alguns dos momentos mais felizes da minha vida.
-Eu também nunca te vou esquecer, mas eu não vou conseguir gostar de algém como gosto de ti.
-Vais sim, e quando encontrares esse alguém, espero que tenhas as boas lembranças que eu terei.
-Tens mesmo de ir.
-Tenho, mas eu vou dando notícias. Talvez mais tarde nos encontremos e poderemos ser amigos.
Mas agora, eu tenho que ir.
-Eu amo-te, mas por te amar, vou deixar-te ir. Eu confio em ti e, naquilo que fazes.
-Adeus.
-Até já.
E despediram-se com um longo e profundo beijo que nunca se apagará de suas memórias.
Eu acredito que todos nós vivemos em algum lugar, e em algum tempo, porque temos uma missão, ou mais para fazer e, por vezes nem nos apercebemos disso. E vocês, acreditam?