sábado, 20 de dezembro de 2008

A despedida verde


-Sabes, preciso de dizer-te um coisa…
-O que é?
-Eu tenho que…
-Não vais comigo à festa, eu sei… tu não gostas dessas coisas.
-Não é isso, eu tenho que me ir embora.
-Sim, eu sei, vais passar as férias em Londres, na casa da tua prima. Já me tinhas dito.
-Não estás a perceber, eu vou-me embora… Para sempre!
-Para sempre? Mas porquê, eu amo-te! Não te podes esquecer de mim assim. Não podes deixar-me assim. Não podemos acabar assim. Vais para onde? E, porquê?
-Os meus pais vão mudar-se. Pensa, eu já cumpri a minha missão.
-Missão, mas qual missão?! A tua missão é ficar ao meu lado para sempre! Eu venero-te, e eu sei que tu também me amas!
-Sim, mas escuta. Tu eras frio, eu tornei-te sensível. Tu eras desconfiado, mas confiaste em mim. Fazias-te de intocável, mas no fundo precisavas de alguém que te tocasse. Eu toquei-te no coração, na ferida que teimavas em esconder. Eu ouvi-te, eu curei-te. Juntos tornámo-nos mais corajosos. Eu fiz-te perceber, que não é a esconderes a tua fraqueza, que vais ser mais forte que os outros. E que não precisas de ser mais forte que os outros.
Eu amo-te assim. Eu amo-te como és! O que importa se ganhas mais? O que importa se desafias mais? O que importa?
Tu agora compreendes. Tu deixaste de ser aquele que se ri dos outros e que faz os outros rir, mas que no fundo se revê naqueles de que se ri.
Tu és bom, tu és o meu herói e, agora tu sabes isso. Tu sabes que nunca ninguém te abandonará. Tu sabes que não precisas de ser rebelde para que gostem de ti. Tu és tu mesmo.
-Eu sei isso tudo, mas eu sou assim contigo ao meu lado. Assim que entrares no carro e que eu nunca mais te vir, eu vou voltar a ser o mesmo. O mesmo parvo sem rumo na vida, que nunca chegará a ser ninguém porque não admite que é humano tal como todos os outros.
-Isso não vai acontecer, tu nunca foste má pessoa, não é agora que o vais ser. Foste orgulhoso? Sim foste. Foste presunçoso? Sim foste. Foste um pouco egoísta? Sim é verdade, foste. Mas se tu reparaste, todas estas formas verbais estão no pretérito perfeito. Tu já não és assim.
-Pois não, não sou. Graças a ti. Mas, e quando tu me deixares?
-Nada vai mudar. Porque quando alguém nos mostra o correcto, nós já não conseguimos fazer o mal. Porque alguém nos mostrou o sofrimento que causamos aos outros e a nós mesmos. Eu acredito nisto e, sei que tu também acreditas.
Encontrarás alguém. Alguém que já terá o terreno preparado para te amar e para ser amado por ti. Foi esta a minha missão.
Talvez a tua missão seja fazer esse alguém feliz, mas não eu.
Eu nunca te esquecerei. Mas o tempo cura tudo e, um dia vou lembrar-me de ti, como uma pessoa maravilhosa que me fez viver alguns dos momentos mais felizes da minha vida.
-Eu também nunca te vou esquecer, mas eu não vou conseguir gostar de algém como gosto de ti.
-Vais sim, e quando encontrares esse alguém, espero que tenhas as boas lembranças que eu terei.
-Tens mesmo de ir.
-Tenho, mas eu vou dando notícias. Talvez mais tarde nos encontremos e poderemos ser amigos.
Mas agora, eu tenho que ir.
-Eu amo-te, mas por te amar, vou deixar-te ir. Eu confio em ti e, naquilo que fazes.
-Adeus.
-Até já.
E despediram-se com um longo e profundo beijo que nunca se apagará de suas memórias.


Eu acredito que todos nós vivemos em algum lugar, e em algum tempo, porque temos uma missão, ou mais para fazer e, por vezes nem nos apercebemos disso. E vocês, acreditam?

6 comentários:

Anónimo disse...

Eu acredito.

Acredito que todos nascemos com uma missão na Terra. Nunca pensei que alguém pensasse o mesmo que eu.

Acredito que todos nós nascemos para melhorar um bocadinho mais este mundo, para ajudar os outros, ou simplesmente para fazer alguém feliz!
Acredito que se não fosse termos uma missão, não fazia sentido andarmos por cá, porque a nossa existência não tinha sentido. E é o cumprimento desta missão que nos faz verdadeiramente felizes!

Anónimo disse...

Naaa, nao o vejo como uma missao. Acho que a vida é vivida com a emocao de cada momento, e a felicidade esta no empenho e na intensidade que colocamos em cada um desses momentos. Eu cá, quero ser feliz todos os dias, se ficasse eu a espera de concluir a minha missao estava bem tramado. A felicidade esta na forma como te relacionas com os outros, no dia-dia, nas palavras que usas a cada dialogo, no que fazes a cada segundo e como utilizas o teu tempo. Os mais felizes sao aqueles que melhor sabem usar e retirar o que ha de bom de cada momento. Nao temos uma missao na Terra, a vida e que esta cheia de missoesinhas, aqui e ali.

Sei la...acho eu!

Anónimo disse...

Acredito ! !
E partilho da tua opinião e a da Joana.

Acredito que todos nascemos como uma missão . . . Como a simples e tão importante missão de fazer alguem feliz! Por mais minima que ela nos pareça, acreditem que faz a diferença.
É por as pessoas não acreditarem que na sua missão que existe tanta maldade.
Acredito, que cada passo que damos na nossa missão nos torna, pouco a pouco, PESSOA, com valores. Cada passo que nós damos é um desafio dificil, mas possivel de cumprir. Cada vez que conseguimos ultrapassar cada um desses desafios, estamos a justificar a razão da nossa existência. Nenhum de nós é um inutil, pois todos temos uma MISSÃO!

Anónimo disse...

eu concordo com o Pedro.

Anónimo disse...

Ela cumpriu a sua missão...Isso deixou.a com um sentimento de realização pessoal...

Mas terá ficado feliz depois disso ?

É como te disse...Ela é um pouco fria ! Gaija q é gaija... Chora baba e ranho, principalmente numa despedida (nem que seja numa despedida para ir de férias!)

Missão?

Não acredito que tenhamos uma...Mas várias...Várias pequenas missões, nem que seja a velha boa acção se atravessar a velhota...

Se calhar é isso ! São as boas acções que tornam uma missão numa missão! No geral...Acredito !

E mesmo que não exista...É o facto de pensar que sou alguém aqui, que as minhas atitudes são realmente significativas não só para mim, que me tornam uma pessoa melhor !

Adorei o texto !

Escreves muito bem ! Vais ser uma "Nicholas Sparks" portuguesinha =)

Anónimo disse...

Eu também acredito.
Afinal nós temos que ter alguma razão para viver, não é?
Decerto que o único objectivo da nossa existência não pode ser a morte! Recuso-me a acreditar que nós nascemos apenas para morrer, logo tem de haver alguma razão para a nossa existência. A ideia de que temos uma missão nesta vida, mesmo sem sabermos disso, parece-me a mais lógica e reconfortante.