quarta-feira, 30 de setembro de 2009

É verde, mas eu gosto


Citadina até mais não. São raras as vezes em que pensamos sobre o que somos. Eu sou uma miúda da cidade, e ninguém o pode mudar, nem eu mesma. Acho que a cidade nos mima e mal habitua. Posso ir ao cinema quando quero, onde quero, com quem quero. Tenho-o a dois passos. Tenho tudo à mão, lojas, restaurantes, livrarias, perfumarias... até a linha de metro, que tantas vezes me carrega. Posso ir para onde quero, quando quero, sem satisfações nem complicações. Eu entro e ele, o metro, leva-me. Para longe, para perto. Até para onde eu não quero ir. Mas leva. E aí, toda a dependência que me possa prender desaparece, vou para onde quero. Quem me impede?

E vou para Lisboa, por exemplo. Dantes Lisboa não era importante. Dantes Lisboa era comércio e serviços. Mas agora não. Lisboa é Lisboa. E descobri que é linda, que é verdadeira a beleza do rio e, que poucas serão as cidades dotadas de tanta fantasia que a história lhes confere. Imaginem, todos os recantos. Todos os passos cujos recantos foram espectadores. As personagens. As causas. E o rio? O rio que para mim, apenas era a ilustração da longa e interminável estrada que conduzia à praia nos dias de trânsito caótico, agora é mais do que isso. É o Rio da cidade. Aquele que sabe tudo. Nada acontece sem por ele passar. Nada se fala sem ele saber. E a cidade ele beija, e abraça. E protege. E, agora, aquele rio que dizem ter-me sido mostrado muitas vezes, faz lembrar-me quem sou, e de onde sou. E é esse rio que tenho em comum com todos os que habitualmente me constróem.

E continuo a ser a princesa da periferia, mas ao menos, conheço o Rio.

3 comentários:

Diana Duarte disse...

Adorei! Simplesmente adorei, sem dúvida! Escrita inteligente e emocionante, tão diferente da minha....

Somos diferentes em mais coisas, uma delas é no facto de ser do interior, da Serra da Estrela, distrito da Guarda fria e longe de tudo.

Acredito na diferença entre pessoas e na sua singularidade, adoro conhecer os seus pensamentos e gostos, reparar em tudo o que os faz diferentes de mim e contudo tão iguais quanto o possível.

Para mim, ver um rio é normal, ver uma floresta é normal e ir ao cinema ou às compras QUASE um acontecimento.

Vivo e vivo feliz, acredito que sou alguém e que não sou defenida pelo local onde vivo, mas pelo uso que lhe dou.
Acredito em descobrir-me e descobrir os outros.
Acredito em fantasiar e imaginar as coisas que se passaram no mesmo local onde passo, vivo e respiro.

Quero ser e sou aquilo que imagino, penso e descubro.

Descobriste o rio, reconheceste e sabes qual a sua importância, por mais citadina que sejas ainda tens alguma alma menos "cinzenta" do que os prédios por onde passas e onde convives.

Beijo

Missy_FLORescente disse...

Lisboa...

Lisboa...

O nome tem ritmo, tem dança, tem alegria, tem sangue, tem guerra, tem doença, tem luz, tem o caos... O nome tem tudo!

Quem não conhece Lisboa, não vale a pena conhecer mais nada!

LilianaS. disse...

Pois eu não acho mas se TU és mimada é porque tens ai Odivelas Parque mesmo ao lado.
E a mim o Loureshopping!